Conto - A Garota do Lago

Uma rajada de vento bateu em meu rosto, me trazendo um alívio por estar naquele lugar novamente. Aquele lago localizava-se próximo a minha casa, não é muito longe, mas também não é muito perto; deu para entender? Espero que sim. Eu conheço aquele lago desde que eu me mudei para esse fim de mundo. Ele é como o meu cantinho, meu refúgio do mundo real para um local agradável, onde eu possa esfriar a cabeça ou simplesmente passar um tempo sozinha, pensando na vida, coisa e tal. Soltei um suspiro ao olhar para os meus tênis que quase encostavam na água do lago. Ouvi passos rápidos logo atrás de mim e era impossível não sabe que era ele que estava vindo até mim:

- E ai, moça. - Ele disse, sentando-se ao meu lado na ponte. - O que faz aqui, sozinha, no Lago Ness?
- Lago Ness? - Segurei o riso. - Aqui nem cabe um monstro!
- Mas aqui vive o filhote dele. - Eu ri, lhe dando um leve soco no braço.

Era legal ter ele ao meu lado, mas ele só me via como amiga... Pois é, essa é a desvantagem de ter um amor platônico pelo seu melhor amigo: você morre de medo de falar isso a ele e tem mais medo ainda de que ele não a corresponda; fato. Escorei minha cabeça em seu ombro, em seguida fechando os olhos:

- Vamos lá, pode ir falando o que você tem? - Ele disse, como se fosse minha obrigação.
- Eu não tenho nada. - Respondi, ainda de olhos fechados.
- Tem sim! Você sempre vem para cá quando tem algum problema. - Ele me abraçou, me puxando para mais próximo dele.
- Só tô com o coração pesado, sabe? Indecisa, meio confusa sobre algumas coisas, só isso.
- Só isso?

Ele não parecia satisfeito... Estava na cara que ele queria arrancar algo mais de mim, exatamente o que eu estava escondendo dele:

- O que você quer? - Perguntei, com os olhos abertos, o olhando com a cabeça sobre o seu ombro.
- Que você me diga o que você não me contou. - Ele respondeu, normalmente.
- Oh, claro, madame! Quer um unicórnio também? - Disse, debochada, quase deixando o riso escapar.
- Oh, sim, minha cara! E tu poderias trazer uma xícara de chá para mim, também? - Aquele idiota imitou uma voz super fina e fingiu pegar uma xícara imaginária, com o minguinho erguido e bebeu um gole do seu chá de mentira. - Hum... Estava delicioso.
- Isso foi tão sem noção! - Disse, entre risos.
- Vai me dizer o que você tem ou não? - Eu neguei com a cabeça. - Por quê?
- Por que isso é confidencial, tá guardadinho em um cofre chamado meu coração e a segurança é máxima. - Desenhei um coração sobre o peito.
- Tudo bem, eu tenho a senha desse cofre.
- E qual é a senha? Posso saber? - Disse o encarando.

Ele olhou para mim e beijou minha testa. Eu sorri por causa da sua ação completamente inesperada. Por dentro eu estava quase explodindo como fogos de artifício, mas por fora eu estava simplesmente sorrindo feito a boba que eu já era:

- Deu, essa era a senha, agora me diz o que é.

Eu precisava por as cartas na mesa, não havia mais lugar onde eu poderia me esconder, suspirei e disse:

- Eu tô assim por causa de uma pessoa...
- E quem seria essa pessoa? - Ele perguntou.
- Ah... Como explicar isso? - Perguntei a mim mesma.
- Eu?
- Você? - Me impressionei... Ele sabia?
- É, sou eu? 
- Se é você?
- Sou eu ou não?
- Ah... Sim.
- E o que eu fiz para você ficar assim?
- Me fez virar uma idiota.
- Mas você já era idiota. - Doeu? Claro que doeu, mas ninguém precisa saber.
- Não estou falando dessa maneira, mas de outra maneira. - Olhei para os meus tênis, que estavam com as solas já tocando a água do lago.
- Que outra maneira, seja mais específica!

O encarei, eu não tinha como definir aquilo em palavras, nem mesmo em atos. Se eu pudesse deixar algo escrito para ele... Chequei os bolsos da minha calça jeans e encontrei uma folha de caderno dobrada; era exatamente daquilo que eu precisava:

- Toma, isso é para você. - Lhe entreguei o papel. - Tá ai, tudo o que você precisa saber.

Me levantei e limpei minhas calças, haviam algumas folhas grudadas nelas e poema que caiam dos sapatos das pessoas que costumavam passar por ali. Ele levantou-se, ficando mais alto do que eu:

- Preciso ir, minha mãe deve estar pensando que eu morri o que eu fui estuprada, sei lá.
- Te vejo amanhã? - Ele me lançou um sorriso tímido.
- Te vejo amanhã, grandão.
- Até mais, baixinha.

Eu sorri para ele. Deu um passo a frente e ergui a cabeça para olhá-lo nos olhos:
- Abaixo um pouco. - Ele flexionou os joelhos para ficar menor. - Um pouco mais. - Ele de abaixou mais, ficando apenas uns 10 centímetros maior do que eu. - Isso ai! Perfeito.
- Qual o motivo dis...

Me levantei, na ponta dos pés, e lhe beijei. Sim, eu fiz isso. Por quanto tempo eu juntei coragem para fazer isso? Sei lá, acho que uns 7, 8, 9 anos, por ai. Logo voltei a minha posição normal e percebi que ele estava perplexo:

- Desculpa... Preciso ir, tchau! - Disse saindo correndo.
- Tchau! - Ele gritou. - E obrigado pelo beijo que eu tanto sonhei!

Já sei, já sei! "O que estava escrito no papel?"... Nada demais. Se quiser saber, olhe com os seus próprios olhos:


XOXO - Kathhi ღ 

4 comentários:

  1. Ai que sonho isso acontecer comigo. Mas é impossível, nem lago aqui perto tem :P
    Parabéns jovem escritora, adorei seu conto <3
    Beijos, Ráh

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    1. Verdade, Ráh *u*. Ué? Leva o seu pretendente lá na Lagoa dos Patos, e não se esqueça do papelzinho! Obrigado, moça :3.
      Beijos ღ!

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  2. Você tem que escrever um livro!!!! Eu adorei, muito lindo!!! >.< é do tipo daqueles livros que eu amo! que quanto mais você lê mais você quer saber!!!!
    Kisses*

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    1. Eu sei, moça, a duvida é: alguma editora iria publicar os meus livros? Obrigado, Ana, fico feliz que tenha gostado :3. Conheço muitos livros assim, Fazendo Meu Filme é um deles.
      Beijos ღ!

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